Pedro Cavaco

Nos últimos 20 anos Portugal arde incessantemente, na realidade arde tanto que chego a pensar onde é que ainda se consegue ir buscar algo mais para arder.

A floresta portuguesa é um recurso natural bastante precioso, tanto a nível biológico como económico, mas essa mesma floresta portuguesa todos os anos é lançada ao abandono e à sorte do Deus dará.
Em Portugal não existem meios de prevenção de incêndios organizados, e é devido a essa falta de organização e mal aproveitamento de recursos, que ano após ano, tudo arde e tudo volta a renascer para arder uma vez mais.

Tal como a polícia, os bombeiros são activo que devia estar na rua (neste caso nas matas) em locais críticos onde possam ter uma resposta rápida, isso está acontecer por exemplo este ano, na Serra da Arrábida onde até ao momento, curiosamente tudo permanece calmo.

A reorganização da floresta tem que ser pensada de raiz, os quilómetros de densidade florestal sem “estradrões” ou qualquer via de acesso não podem continuar como se nada fosse, mais, a replantação tem que ser controlada porque um eucalipto não é um pinheiro.

Quando chegamos à questão da limpeza das matas há que compreender que ela é importante, mas fazer dela a solução ou o problema ideal, é um atentado à inteligência.
Em Portugal a população é envelhecida e a maior parte da floresta do interior é dessa mesma população ou respectivos descendentes. Alguém vai por um idoso de 70 ou 80 anos a limpar a sua floresta ou pedir-lhe dinheiro para pagar uma limpeza de matas, quando ele mal tem dinheiro para medicamentos?
Alguém estaria disposto a tirar todos os anos 20 dos seus 25 dias de férias para ir limpar as suas matas?
Alguém estaria disposto a pagar a sua limpeza quando dos 50 mil crimes de incêndio nas florestas portuguesas, apenas um por cento dos casos chegaram a julgamento e nenhum teve uma condenação pesada.
Não acredito e nem sequer o consigo aceitar.

Porque é que os presos não hão de ter um papel fundamental na limpeza das florestas Portuguesas, porque é que os nossos bombeiros morrem e ficam feridos gravemente e nos limitamos a chorar, sabendo que amanha outros virão.
Há mais de duas décadas que a floresta portuguesa está ao abandono e não nos faltam os recursos, falta-nos é a inteligência e coragem para os saber usar, falta-nos a justiça para quem ano após queima e manda queimar.

O problema não são as matas, mas sim quem as mata.